José Ataide


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Londres 2012

Este texto, por favor, não tem qualquer pretensão mística – sob pena de soar charlatão. Mas é engraçado como o número quatro costuma passar uma ideia de ciclo. São assim as quatro estações do ano, as quatro fases da lua, os quatro períodos do dia. E os quatro estágios da vida – infância, adolescência, idade adulta e velhice. Mayra Aguiar, que nesta sexta-feira completa apenas 21 anos, está acostumada a medir seu tempo em ciclos olímpicos – que duram justamente quatro anos. E ela, fazendo um cálculo simples, deve disputar quatro Olimpíadas ao longo da vida. Em sua existência de atleta, viveu a infância em Pequim, quando, ainda engatinhando, foi eliminada já na primeira luta. E experimentou a adolescência agora, em Londres. Que nos preparemos: a nova medalhista olímpica brasileira tende a chegar aos Jogos do Rio, em 2016, como uma adulta pronta para o ouro.

Foto: Agência AFP

 

Nesta quinta-feira, no instante em que derruba, com um ippon, a holandesa Marhinde Verkerk e garante o bronze, é interessante a expressão de Mayra. Ela não entra em um pranto eufórico, como Felipe Kitadai, outro dono de um bronze. Também não faz uma careta de choro, caso de Sarah Menezes, por enquanto proprietária de nosso único ouro em Londres. Mayra, não: ela sorri. Abre um sorriso alegre, claro, mas longe de ser extravagante. É serena. E é serena porque sabe que ainda está em fase de crescimento no esporte, porque sabe que a vida adulta dentro do tatame ainda está por vir. E aí o bronze de hoje pode ser o ouro de amanhã.

O sexto dia das Olimpíadas de 2012 serviu para quebrar a seca de medalhas. Desde sábado, o Brasil estava órfão de pódios. Estávamos com saudade. Fazia tempo. Fazia exatamente… quatro dias.

Agora a questão é saber quantos outros pódios, feito o de Mayra ou superiores a ele, virão. A quinta-feira deixou boas perspectivas. Cesar Cielo mostrou que, passados quatro anos do ouro em Pequim, continua sendo um monstro nos 50m livre. Ele avançou para a final com o melhor tempo do dia – empatado com o americano Cullen Jones. Bruno Fratus também foi muito bem: o quarto melhor, dando sinais de que é outro que pode ir ao pódio.

Thiago Pereira também fez bonito, mas parou em seu limite máximo em uma prova complicadíssima. Nos 200m medley, ficou em quarto, atrás do fenômeno Michael Phelps, de seu compatriota Ryan Lochte e do húngaro Laszlo Cseh. Já Kaio Márcio foi eliminado nas eliminatórias dos 100m borboleta.

O vôlei de praia brasileiro cheira a medalhas. Nesta quinta-feira, o país fechou de forma impecável a primeira fase da disputa. Nenhuma dupla verde-amarela perdeu na etapa de classificação. Foram 12 vitórias em 12 jogos. Desta vez, os triunfos foram de Maria Elisa e Talita e de Alison e Emanuel. Elas superaram as australianas Bawden e Palmer por 2 sets a 1 (18/21, 21/16 e 15/9). E eles bateram os italianos Nicolai e Lupo por 2 sets a 0, parciais de 26/24 e 21/18.

No boxe, outra boa notícia. Esquiva Falcão bateu forte em Soltan Migitinov, do Azerbaijão, e foi às quartas de final da categoria peso-médio. Ganhou por 24 a 11. Está a uma vitória de garantir uma medalha. O adversário na próxima fase, segunda-feira, é o húngaro Zoltan Harcsa.

Quem também está perto de outra medalha olímpica é a dupla formada por Robert Scheidt e Bruno Prada na vela. Eles fecharam mais um dia na segunda colocação da classe Star, mas se distanciaram dos líderes, os britânicos Iain Percy e Andrew Simpson. Os anfitriões somaram um primeiro e um segundo lugares nesta quinta, enquanto os brasileiros foram terceiros em uma regata e quintos em outra.

O problema esteve nos esportes coletivos. A exemplo do que aconteceu com Mayra, derrotada por uma americana (abaixo, leia mais sobre Kayla Harrison), e de Thiago Pereira, batido por Phelps e Lochte, o vôlei masculino foi superado pelos Estados Unidos. Perdeu por 3 sets a 1 (23/25, 27/25, 25/19 e 25/17). Foi a primeira derrota do time de Bernardinho no torneio.

O basquete também sofreu um golpe duro. Faltando menos de seis segundos para o fim da partida, com o Brasil à frente no placar, o russo Vitaliy Fridzon resolveu arriscar, pela primeira vez no jogo, um arremesso de três pontos. E acertou. Assim, transformou a vitória brasileira em derrota. Doeu olhar no placar e constatar: 75 a 74. A ressalva é que foi o primeiro insucesso do time de Rubén Magnano na competição.

No tênis, a dupla brasileira formada por Bruno Soares e Marcelo Melo não conseguiu passar das quartas de final. Eles perderam para os franceses Jo-Wilfried Tsonga e Michael Llodra por 2 sets a 0, parciais de 6/4 e 6/2. Foi a melhor campanha de uma dupla do país nas Olimpíadas.

Fonte: UOL