Acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de pressioná-lo para liberar uma empreendimento embargado em Salvador, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, confirma que conversou sobre o caso, mas nega qualquer pressão e atribuiu à “inexperiência” de Calero a má interpretação sobre as consultas que fez sobre o caso.
“Não fiz nenhuma pressão indevida ao ministro, me surpreende e entristece essas acusações. Eu tive sempre uma relação harmoniosa com o ministro Calero, eu do meu jeito, ele do jeito dele. Tratei com um colega a preocupação com esse assunto, uma troca de ideias”, disse Geddel.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo deste domingo, Calero afirmou que seu pedido de demissão foi motivado pela pressão que vinha sendo feita por Geddel para que o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) liberasse a construção de um empreendimento na Ladeira da Barra, em Salvador, onde o ministro comprou um apartamento.
O edifício, de 30 andares em alto luxo, com apartamentos de 260 e 450 metros quadrados, está sendo construído em uma área sob restrição por estar ao lado de sítios históricos tombados da capital baiana. Em 2014, a obra teve parecer contrário do Escritório Técnico de Licenciamento e Fiscalização da prefeitura de Salvador. Mesmo assim, conseguiu a licença meses depois.
Na entrevista, Calero afirma que logo depois de assumir o cargo foi procurado por Geddel para tratar do caso. E que as conversas se repetiram por pelo menos mais duas vezes.
“Ele pede minha interferência para que isso acontecesse, não só por conta da segurança jurídica, mas também porque ele tem um apartamento naquele empreendimento. Ele disse: ‘E aí, como é que eu fico nessa história?'”, disse o ex-ministro à Folha.
Geddel alega que foram conversas normais, entre colegas, e não uma forma de pressão. “Eu não tratei do assunto com o Iphan, com quem quer que seja. Onde está a imoralidade? Não tem nada que possa ser tratado como pressão, tanto que, por mais que eu pense diferente, a posição que prevaleceu é a do Iphan”, disse.
Questionado sobre a que atribuía as acusações de Calero, Geddel diz não saber. “Não me pergunte. Não sei. Acho que o que ele mesmo disse: inexperiência, receio de decidir, pouco costume no trato com a política”, especulou.
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters)