José Ataide


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Botafogo deu um passo de cada vez até a elite do basquete

Em setembro de 2015, o Botafogo recomeçou sua trajetória no basquete. Primeiro carioca campeão de um torneio nacional, em 1967, o Alvinegro retornava com o projeto de um time profissional. O reinício, porém, cobrou o preço da longa inatividade. Ao chegar ao clube, o técnico Márcio de Andrade, ex-Vasco e Goiás, encontrou um cenário de “terra arrasada”, como ele classifica aquele momento. Com estrutura amadora, o Glorioso ganhou confiança dos mandatários, deu um passo de cada vez e na última sexta-feira conseguiu sua consagração quando bateu o Joinville no Ginásio Oscar Zelaya, no Rio de Janeiro, e conquistou a Liga Ouro, garantindo um lugar na elite do basquete brasileiro na próxima temporada.

– É muito gratificante. Você começar do zero. Chegamos aqui com terra arrasada. Fomos crescendo dia após dia, muito do espírito de luta do Bahia, do Roberto, do Arnaldinho, que acreditaram no projeto. Depois vieram os meninos, o Luca, o David, o Douglas, então, eles foram acreditando no projeto. E nós, Botafogo, fomos caminhando junto, somando algo. Precisamos agradecer ao presidente Carlos Eduardo, que é um cara que dá uma força a todos os esportes. Também ao Gláucio, ao Alexandre, Guinâncio, o Léo, a turma que trabalhou. Não é uma conquista de agora, é de dia a dia. Quando cheguei aqui, nem vestiário tinha, agora temos um vestiário de qualidade – diz o técnico Márcio de Andrade.

Em General Severiano, nos primeiros treinos, a primeira ideia era bem simples: “Precisávamos mostrar que o basquete estava de volta. Era importante que os associados e diretoria ouvissem o barulho dos tênis na quadra”, conta Rodrigo Bahia, pivô que está desde o começo da caminhada. Bola, colete, tudo era complicado. Quando jogou o Estadual de 2015, o Alvinegro contou com a confiança de um grupo de atletas que aceitaram receber salários bem abaixo do mercado. O próprio Rodrigo, por exemplo, dividia seu tempo com o trabalho de personal trainer. E Arnaldinho, prata da casa, chegou a dirigir para a Uber em busca de uma renda extra. Roberto era outro veterano que confiou na empreitada.

– No meu caso foi igual a todos. Fiz algumas opções porque eu não queria sair daqui. Por tudo que vivi no Botafogo no início da carreira, sempre pensei em terminar a minha carreira aqui. Cheguei a comprar o carro, foi só no começo, uma tentativa. Nada tão profissional. Eu não cheguei a fazer muita coisa. Não dei continuidade. O Botafogo sofreu muito no início, por tudo que passamos em termos políticos também. O Botafogo conseguiu se reorganizar, passou pelos problemas, e esse presidente soube ter paciência. O projeto não era de primeira, rápido. Demos tempo ao tempo, e depois de dois anos viemos para a Liga Ouro atingindo nosso objetivo – lembra Arnaldinho.

Rodrigo Bahia também era personal trainer

Cestinha do jogo 3, quando o Botafogo abriu 2 a 1, em Joinville, Rodrigo Bahia tinha seu soldo da Aeronáutica e também trabalhava como personal trainer. Foi para o Alvinegro com um salário irrisório, mas confiou no projeto. Quando o clube conquistou a Liga Ouro, ele não segurou as lágrimas e era um dos mais emocionados. Bahia se recordou de quando foi preciso fazer todos acreditarem em um projeto duvidoso e os treinos aconteciam apenas três vezes por semana, já que nem todos podiam estar à disposição por mais tempo que isso.

– Temos que agradecer a presidência, diretoria, que fizeram um esforço grande e acreditaram na gente, em um projeto duvidoso. Perguntavam se valia a pena. No passo a passo fomos conquistando a confiança, trouxemos patrocinadores, aí chegou o Jamaal, outros norte-americanos, o projeto foi crescendo. No começo não tinha nada. Não tinha colete. O salário era R$ 2 mil, uma ajuda de custo, nada com relação ao que vivemos e passamos na carreira. Mas fomos acreditando, as coisas foram acontecendo. Eu dando aula de personal, o Arnaldinho dirigindo Uber, e as coisas foram crescendo, numa proporção que foi nos assustando. E hoje é isso, é o NBB. E sólido, que é o mais importante. O projeto do Botafogo veio devagar, mas é sólido. Temos o Estadual contra Vasco e Flamengo, vamos pensar nisso e só em coisa grande – conta Bahia.

Fonte:ge