José Ataide


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Tensão na reta final do Brasileirão 2025 pode afetar o coração dos torcedores de Bahia e Vitória, alertam especialistas

É chegado um dos momentos mais emocionantes para torcedores da dupla BA x VI: a última rodada do Campeonato Brasileiro 2025. Apesar de objetivos diferentes na competição, a torcida dos dois principais times do estado, compartilham o mesmo sentimento de preocupação com o destino para 2026.

 

Por enquanto que tricolores demonstram ansiedade com o último jogo que pode definir uma vaga direta na fase de grupo da Libertadores, rubro-negros enfrentam a tensão e estresse com a última partida, que vai estabelecer se o time permanece na Série A ou será rebaixado para a Série B. 

 

Essas angústias e preocupações atreladas aos jogos podem causar alguns danos e problemas na saúde dos torcedores durante essa reta final. Em conversa com o Bahia Notícias, o diretor da Associação Bahiana de Medicina e cardiologista, Mário Rocha, revelou que os jogos mais tensos de final de ano podem impactar a saúde cardiovascular de torcedores com histórico desses problemas.

 

“Na prática cardiológica, especialmente em períodos de grande decisão, é possível notar um aumento de atendimentos por picos hipertensivos, ou seja, por elevação pressórica, sensação de palpitações, dor torácica durante ou logo após as partidas decisivas. Existem também alguns casos de arritmias e de infarto associado ao estresse do jogo”, disse o especialista. 

 

Segundo o médico, nesta época há uma procura maior em atendimentos de urgência em decorrência da alta tensão que torcedores enfrentam durante as partidas. 

 

“Isso ocasiona uma maior procura dos serviços de emergência durante os finais de campeonato e clássicos de alta tensão. Embora nem todos os casos sejam diretamente relacionados pelo jogo, o estresse emocional intenso é um elemento significativo e reconhecido como fator desencadeante em indivíduos ou pacientes predispostos”, observou. 

 

De acordo com o profissional, além de infarto, arritmia ou AVC existe ainda a possibilidade da síndrome denominada de “coração partido”, que é causada pelo estresse emocional intenso.

 

“A literatura médica descreve claramente um desencadeamento em que um fator emocional atua como um gatilho para eventos cardiovasculares em indivíduos que são vulneráveis. Jogos tensos, decisões por pênaltis e ambientes de torcida podem aumentar abruptamente a pressão e a frequência, alterar o tônus autonômico, favorecendo arritmias e desencadear ruptura de placas de gordura culminando no infarto, produzindo um quadro que é bastante típico”, explicou Rocha.

 

“Além dessa situação do infarto, existe a possibilidade do chamado síndrome do coração partido, que é uma condição clínica que é precipitada por um estresse emocional intenso. A emoção do futebol, principalmente na sua reta final, pode sim precipitar eventos cardiovasculares, principalmente em pacientes previamente doentes ou mal controlados”, comentou Mário. 

 

O especialista ainda alertou e deu dicas dos cuidados necessários que os torcedores devem ter com a saúde do coração.

 

“Nessa reta final para quem já teve problemas no coração, é preciso se cuidar antes do jogo. Tomar os medicamentos habituais, não exagerar nas bebidas alcoólicas, se possível assistir o jogo com alguém de sua confiança e tentar manter a sua calma. Se eventualmente sentir algum sintoma que pareça estranho procurar ajuda”, completou. 

 

A reportagem do BN também conversou com o Oficial Médico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ex-coordenador médico do Esporte Clube Bahia, Luiz Sapucaia, que reforça que a condição clínica do torcedor influencia diretamente nos riscos durante uma partida decisiva.

 

“Depende muito da condição sistêmica desse torcedor. Se é hipertenso, se é cardiopata, se usa medicações regulares. A emoção e a ansiedade são inevitáveis em um jogo final que define o destino dos times. Reduzir a ingesta alcoólica é importante, porque o álcool favorece picos emocionais mais altos. O ideal é que a pessoa esteja com a medicação em dia, alimentação em dia e diminua o consumo de álcool para não exacerbar essas emoções. E tenha fé em Deus, né? Porque nessa hora todo mundo reza um pouquinho”, afirmou.

 

Sapucaia também explicou que o impacto emocional não atinge apenas a arquibancada — mas também quem está em campo. “Inevitavelmente, há nervosismo. Quando fui médico do Bahia, convivemos muito com isso. Existe um trabalho psicológico muito grande para que o atleta entre em campo o mais controlado possível, mas é difícil. Está em jogo o trabalho do ano inteiro, a família, o salário. Os primeiros cinco minutos são duros, porque é preciso administrar emoção, ansiedade, pressão da torcida e a busca pelo resultado.”

 

Segundo ele, a juventude do elenco também pesa em momentos como este. “Trabalhamos com atletas muito jovens, muitos deles sem a experiência de uma final complexa como essa. Esses jogadores carregam mais adrenalina e ansiedade, enquanto os mais velhos precisam administrar a própria tensão e ainda ajudar a controlar os mais novos.”

 

No entanto, são nas arquibacandas que a tensão acontece de forma mais intensa. A torcedora Sineide Araújo, rubro-negra, descreveu o clima entre os adeptos do Vitória às vésperas do jogo decisivo.

 

“Do ponto de vista do torcedor do Vitória, a palavra é acreditar até o fim. O time já mostrou outras vezes que, mesmo com poucas chances, consegue se reerguer. A chegada de Jair Ventura trouxe ânimo ao elenco e reacendeu a esperança do torcedor. Mas a derrota para o Bragantino, depois de uma boa atuação contra o Mirassol, foi como um balde de água fria.”

 

Apesar do retrospecto desfavorável contra o São Paulo, Sineide afirma que a confiança permanece alta.

 

“O Vitória não vence o São Paulo desde 2016, mas agora é um jogo de vida ou morte. Os ingressos esgotados mostram que a torcida acredita que o time vai entrar no Barradão para buscar o resultado. Sabemos que vai ser complicado, porque o São Paulo também briga por seus objetivos, mas o Vitória precisa vencer para escapar do rebaixamento. A força do Barradão faz a gente acreditar que é possível.”

 

Do lado tricolor, o sentimento também mistura confiança e apreensão. O torcedor Antônio Neto, criador do canal ECBTV, descreveu como está vivendo os dias que antecedem a partida decisiva do Bahia.

 

“Do ponto de vista da saúde, está meio conturbado. Ainda existe uma insegurança, naturalmente, por ser um jogo fora de casa, mas o lado torcedor sempre acredita e confia. Conforme os dias vão passando e o domingo se aproxima, a confiança aumenta um pouco mais.”

 

Para ele, a campanha do Bahia dá motivos para acreditar em uma classificação direta para a Libertadores.

 

“É importante enaltecer a grande campanha que o Bahia fez, principalmente na Fonte Nova. O sonho da vaga direta existe e realizá-lo seria especial. Espero viver isso no Maracanã, viver essa história e poder contar essa memória no futuro.”

 

Antônio também espera uma postura diferente da equipe em campo.

 

“O que a gente mais espera é uma mudança dentro de campo, uma postura diferente do Bahia. Que isso sirva de motivação e mexa com o brio dos jogadores, para que o time possa se superar nas escolhas, nas modificações e na escalação. Precisamos de um jogo diferente do que tem sido a tônica fora de casa.”

 

Sobre o adversário, ele acredita que o Bahia não encontrará facilidades.

 

“O Fluminense não vai tratar como um jogo qualquer. Vai ser Maracanã cheio, clima de Libertadores. Espero que o final dessa história seja diferente.”

 

Todos os jogos da última rodada do Brasileirão 2025 acontecem neste domingo (7), às 16h – com exceção da partida entre o campeão Flamengo e Mirassol, antecipada para o dia anterior. O Vitória encara o São Paulo no Barradão, enquanto o Bahia enfrenta o Fluminense no Estádio do Maracanã.