José Ataide


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11º dia

Esta terça-feira, 7 de agosto de 2012, deveria ser o dia da marmota para Sheilla. Deveria ser como aqueles momentos que se repetem sem parar para a personagem de Bill Murray no filme “Feitiço do Tempo”. Todo santo dia, ele acorda na cidade de Punxsutawney, nos Estados Unidos, e vê os acontecimentos se repetirem iguaizinhos à véspera, sem um triz sequer de mudança: a mesma música no rádio-relógio, as mesmas palavras, os mesmos cumprimentos, o mesmo pé atolado em um mesmo buraco na rua. Por mais que tente sair, ele está preso naquele dia – o dia da marmota, quando o bicho, uma espécie de esquilo, sai da toca para avisar se o inverno ainda vai durar algumas semanas ou se a primavera chegou. Se algum dia na vida da oposto da seleção brasileira de vôlei tivesse que se repetir sem parar, que fosse esta terça-feira. Que ela ouvisse a mesma música no rádio-relógio, que trocasse as mesmas palavras com as mesmas pessoas, que recebesse os mesmos cumprimentos infinitamente. E que protagonizasse para sempre, em um ciclo eterno, alguns dos minutos mais lendários dos Jogos Olímpicos de Londres na vitória de 3 sets a 2 sobre a Rússia.

Foi um jogo raro. Talvez a seleção adversária até fosse melhor. Difícil saber. Mas é certo que ela vinha invicta, com cinco vitórias em cinco partidas, ao passo que o Brasil sofrera duas derrotas. Para avançar às semifinais, mais do que qualidade, a seleção brasileira precisaria de maturidade, de espírito, de coração – justamente aquilo que boa parte das meninas foi acusada de não ter em um passado pré-Pequim. E a alma delas foi testada ao máximo. Desvantagem de 1 a 0. Desvantagem de 2 a 1. Tie-break. Seis match-points para a Rússia. Erros de arbitragem. E vitória! O mais incrível: vitória com uma bola depois da outra indo na direção de Sheilla, estivesse onde estivesse, fosse qual fosse a adversária gigantesca que se edificasse no bloqueio. Ela virou todas nos lances finais. Absolutamente todas. Transformou Gamova, a adversária de 2,02m, em uma anã.

Os últimos atos de Sheilla em quadra gritaram aos olhos. Mas ela esteve muito bem acompanhada por Fabiana (a dona do último ponto), Jaque, Fabi, Dani Lins, Thaisa, Fernanda Garay. A vitória colocou o Brasil nas semifinais, contra o Japão, e foi o grande momento de um dia que também teve classificação no futebol, vitória e derrota no vôlei de praia e eliminação no handebol e no salto em distância.

Quase lá

Lá por 13h de sábado, se nos tornarmos pela primeira vez o país campeão olímpico de futebol, será uma justiça danada reservar alguns pensamentos em reverência a Leandro Damião. Ele não tem a genialidade de Neymar. Ele não tem a moral internacional de Thiago Silva. Mas ele tem uma efetividade sem poréns. Com mais dois gols do matador, o Brasil bateu a Coreia do Sul por 3 a 0 nesta terça. O outro foi do volante Rômulo. O camisa 9 é o artilheiro das Olimpíadas, com seis gols. Vem sendo decisivo especialmente nas etapas eliminatórias.

Ele já é o terceiro atleta que mais fez gols pela Seleção masculina em Jogos Olímpicos. Perde apenas para Bebeto (oito) e Romário (sete). Se tudo der muito certo, poderá ultrapassá-los na decisão contra o México. É a chance de o Brasil, na preparação para 2014, fazer história. Até hoje, tem duas pratas, dois bronzes e uma série de fiascos. Mas falta pouco. Falta um jogo. Falta mais um ou outro gol de Leandro Damião.

Alison e Emanuel também estão quase lá. Também estão na final. Bateram a dupla formada por Plavins e Smedins, da Letônia, por 2 sets a 0 (21/15 e 22/20). O primeiro set foi fácil e deu a falsa impressão de que o caminho seria tranquilo. Mas os brasileiros quase foram surpreendidos logo depois. Os europeus engrossaram o jogo e chegaram a empatar por 18 a 18 no segundo set. Mas Alison e Emanuel tiveram cabeça no lugar para fechar o jogo e garantir o direito de disputar o ouro contra os alemães Julius Brink e Jonas Reckermann – os mesmos que derrubaram Ricardo e Pedro Cunha nas quartas de final.

Estava ensaiado um dia perfeito para o Brasil no vôlei de praia. Bastava a classificação de Juliana e Larissa mais tarde. E aí a esperança de ouro duplo ruiu.

Adeus ao ouro

Juliana e Larissa alcançaram as semifinais com campanha impecável. Venceram todos seus jogos por 2 a 0. Ir à decisão parecia quase um ato burocrático, especialmente depois de mais um set ganho, por 21 a 15, no início do confronto com as americanas Jennifer Kessy e April Ross. Ledo engano. Sob forte chuva, as adversárias reagiram. Ganharam o segundo set por 21 a 19. E viram a dupla brasileira se desestabilizar depois de um ace no tie-break. Resultado: 15 a 12 para as oponentes.

Foi um golpe duro. Juliana e Larissa haviam vencido os últimos nove jogos contra suas algozes em Londres. Deveriam ter sua qualidade desafiada na final, contra Walsh e May, bicampeãs olímpicas, mas a decisão agora será entre americanas. As brasileiras lutarão pelo bronze contra as chinesas Xue e Zhang.

O dia também foi de queda precoce para Maurren Maggi. Medalha de ouro em Pequim, ela ficou longe de repetir o desempenho alcançado há quatro anos. Os 7,04m do ouro de 2008 foram substituídos por 6,37m, insuficientes para garantir um lugar na decisão do salto em distância – faltaram 3cm. Ela ficou em 15º. Apenas as 12 primeiras se classificaram. Aos 36 anos, a campeã avisou que sua história está longe de terminar. Quer competir no Rio em 2016.

Fonte: Globoesporte.com